quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Imaginação, arte e ciência


Fonte: Carlos Fiolhais
Associa-se normalmente a imaginação à arte e o conhecimento à ciência. No entanto, a imaginação é essencial também para a ciência. Sem imaginação não há, evidentemente, a mínima possibilidade de ciência. A um dos maiores cientistas, o físico suíço e norte-americano de origem alemã Albert Einstein, alguém perguntou um dia o que era mais importante, a imaginação ou o conhecimento. Ele não teve dúvidas em dar a primazia à imaginação: "A imaginação é mais importante do que o conhecimento. O conhecimento é limitado. A imaginação dá a volta ao mundo." Noutra ocasião, repetiu essa sua escolha de modo a não deixar margem para dúvidas, dizendo o mesmo por outras palavras: “O conhecimento permite-nos ir de A para B, mas a imaginação permite-nos ir a qualquer lado”.
A imaginação permite-nos, de facto, não só dar a volta ao mundo, mas ir a qualquer lado, mesmo fora do mundo que conhecemos. É a imaginação que permite à mente viajar a todos os lugares com a maior liberdade. Livremente! É isso que faz o artista, seja qual for o campo da sua expressão artística: ele não só descreve o mundo em que vive como constrói mundos, ao dar forma externa aos seus mundos interiores.
Por que é que, em geral, se pensa que a imaginação é avessa à ciência? Porque a missão do cientista é a descoberta do mundo em que vivemos, um mundo que é afinal único e que pode ser contrastado com os muitos mundos criados pela imaginação. De entre todos os mundos possíveis, vivemos num só. Acontece que é preciso uma imaginação extraordinária para concretizar o empreendimento científico. Para saber como é o nosso mundo, é preciso primeiro adivinhar como é. Quer dizer, é preciso primeiro imaginá-lo.
A arte é, tal como a ciência, uma actividade humana que requer criatividade.
A formulação de uma hipótese científica não é, em geral, trivial. Está longe de o ser. Exige, ao mesmo tempo, um grande conhecimento e uma grande imaginação. E é por isso que não é fácil ser cientista.
“É surpreendente que as pessoas suponham que não há imaginação em ciência. É um tipo de imaginação muito interessante, diferente da do artista. A grande dificuldade reside em tentar imaginar algo que nunca se viu, que seja consistente em todos os pormenores com o que já se observou e ao mesmo tempo que seja diferente do que até aí se pensava; mais, terá de ser uma afirmação bem definida, e não apenas uma proposição vaga. É, na verdade, difícil.” Será difícil, mas é precisamente a dificuldade da imaginação no trabalho científico que confere um valor acrescido tanto a essa imaginação como a esse trabalho.
Em resumo: É fácil para toda a gente perceber o papel que a imaginação desempenha na arte. O valor da arte é, em grande medida, o valor da imaginação. Mas é percebido por menos gente que a imaginação também é um ingrediente da ciência, ainda que de forma um pouco diferente. Se mais pessoas soubessem que a imaginação é comum à arte e à ciência e que na ciência ainda é preciso uma grande imaginação, talvez a ciência gozasse de um maior reconhecimento.

1 comentário:

  1. Bastante interessante a forma como se expõem as duas variáveis mais importantes na ciência. Muito boa comparação. Belo post!

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